O que se fala na análise?

"Quando João fala de Pedro, João fala mais de João do que de Pedro."

Embora tenha raiz como um ditado popular, esse ditado acaba sendo desconhecido para alguns, mas também negado por tantos outros. Ele traz uma carga devastadora, e pode parecer até algo meio paranoico , ao pensar que nada pode ser dito sem revelar um pouco de si. Mas é isso que convidamos a fazer na análise: se entregar a todo tempo, por mais difícil que seja.

Então, já que qualquer coisa que seja dita, fala sobre você, o que se diz na análise? Fala-se sobre o que o sujeito em análise

quiser, pois no espaço psicanalítico, tudo tem sua importância. Inclusive o silêncio.

"Mas posso falar em qualquer lugar, por que na análise isso seria diferente?" A diferença se dá, pois o analista não está lá para conversar, ele está para ouvir, não as palavras em si, mas a angústia que se passa no entre-linhas. Como um jogo de "palavras cruzadas", em que a dica são os silêncios, as vírgulas e os suspiros.

Mas de que vale tanto assim o que se fala? Pelas palavras de Lacan, no seminário 17,  "a linguagem é a condição do inconsciente", ou seja, o caminho para aquilo que não temos contato, em nós mesmos.

Ou seja, falar é expandir o repertório, do repertório de quem somos nós.

Crédito da imagem: Murilo Maluf